São três Chicos, são três destinos
Peregrinos em uma só missão
Chico das vazantes de lua cheia
Chico da enxada parceira
Chico do amor em oração.
São três Chicos, são penitentes
Cativantes cantando o que sentem
Na correnteza, no lavrar, no amar
Viajantes em três dimensões.
Velho Chico padece passeia
Rima a vida, rega a morte
Vigilante a qualquer sorte
Despeja tuas águas rasas
Nas veias das manhãs cheias.
Canta as antigas cantigas
Das lavadeiras ao vento
Canta a seca e a enchente
Canta tudo o que sente
Sonho de ser véu de cachoeira.
Chico descalço, morno passo
Pés plantados, enxada na mão
Lavrador do corpo curvado, do arado
Do solo seco, cor de dor, lá do sertão
Da terra sua companheira
Cultivo, alimento, semente
Onde o sol é mais urgente
Sorriso na lágrima, espinho da flor.
Chico santo que de encanto
Em seu fim e seu intento
Amou porque viveu sabendo
Que amar ignorando
É cegar todo o entendimento
Não é amar, é não saber
É viver sem merecimento.
Chico bendito, caminhos de luz
Canto de graça que conduz.